Há cerca de um ano e sem grande alarido, apaguei a minha conta de Facebook. Mais de uma década de partilha de fotos, memórias e comentários foram desaparecendo do ciberespaço ao longo de vários meses após o pressionar do botão do esquecimento – os dados pessoais demoram cerca de 90 dias a ser apagados dos vários servidores espalhados pelo globo, segundo o Facebook indica. A purga não é, no entanto, completa pois nunca abandonamos inteiramente o mundo Zukerberg. Por exemplo, as mensagens trocadas na plataforma do Messenger continuam a existir nas pessoas que lá permanecem. Ficam também alguns registos anonimizados na base de dados da nossa antiga presença. O clique da libertação final é um conjunto complexo de várias perguntas, camuflado por um simples botão.
“Quer ser esquecido e reclamar a sua privacidade?”
“Concorda não ser perseguido na internet por anunciantes?”
“Vai deixar de ser um produto?”
“Vai desaparecer de vista dos voyeurs?”
Respondi a tudo que sim, sem hesitação.
Apesar de já não ter dúvidas no fim do caminho “Facebookiano”, o processo foi gradual. Comecei a reparar que perdia muito tempo no Facebook, a fazer “voyeur/doom scroll” e cliques por informação que acabaram por ter pouco interesse assim que o factor novidade se esgota. Os algoritmos do mural no Facebook colocam-nos a ver variantes infindáveis do que procuramos, uma espiral caleidoscópica a rodopiar sobre nós, quase como um reforço infinito do nosso eu. Um caminho único e sem escapatória que se traça com um único objectivo: o de nos manter ligados uns aos outros, permanentemente, 24 horas por dia, enquanto nos extraem a alma, os hábitos pessoais e, simultaneamente, vendem o nosso parco tempo a anunciantes.
O primeiro grande passo foi experimentar desactivar a conta. Reparei que não senti a falta de “likes” e comentários, ganhei foi tempo, entre 30 a 45 minutos por dia. O Messenger continuou activo, portanto conseguia falar com os meus amigos se quisesse e vice-versa, o que penso que talvez fosse a função mais útil a nível pessoal, que mantive temporariamente. No entanto, é facilmente substituível pelas dezenas de outras plataformas de comunicação existentes. Voltei a activar a conta mais uma ou duas vezes até que um dia, sentindo um impulso do caminho da liberdade, dei o passo final. O apagão deu-se e senti mais controle do meu destino. Para mim e para o meu tempo, deixar de existir nesse espaço conturbado e manipulador foi uma libertação. Posso confirmar o que a maioria das pessoas que tomaram o mesmo passo dizem: não se perde quase nada e ganha-se quase tudo. Desligar é o futuro.