A liberdade volta aos poucos, em incrementos tão lentos e condicionados que parece que estamos colectivamente a reviver as milimétricas conquistas da adolescência: portaste-te bem, podes ficar na rua com os teus amigos até depois da meia noite; prevaricaste, estás de castigo e não podes sair de casa.
Um ‘nanny state’ acaba por fazer dos seus cidadãos crianças – dependentes, desorientadas, indefesas. E de repente, quando mais precisamos de nos fazer valer de nós próprios, apercebemo-nos o quão aprisionados estamos nas teias de um tecido social tóxico.
Como em qualquer situação em que, na idade adulta, revivemos um trauma, estamos perante uma oportunidade de mudar a carga emocional a ele associada. Pelo menos aqueles de nós que já são adultos e já têm o seu próprio sistema de valores e crenças mais vivido e testado, as hormonas mais estáveis, as funções cognitivas mais oleadas – nós temos a responsabilidade de navegar esta adolescência social de forma a conquistar a nossa própria versão de Liberdade.
E a palavra chave aqui é responsabilidade. Durante a adolescência fisiológica, sentimos a responsabilidade como uma coisa pesada, com uma carga ominosa que nos vai assombrar no futuro. Mas a realidade é que é só a responsabilidade sobre nós próprios e a nossa felicidade nos pode tornar livres.
Porque ser livre começa por definirmos o significado dessa palavra para nós. Sim, lemos muito sobre liberdade, cantámos muito sobre liberdade, ouvimos muito sobre liberdade, mas o que significa para mim ser livre? No corpo, onde é que a liberdade se manifesta? Que imagens me suscita? Em que âmbito é que ela me parece uma luta, e em que situações se me aparenta natural? Se a minha liberdade acaba onde a dos outros começa, significará isso que é preciso existirem outros para que eu possa conhecer os limites da minha liberdade?
Tal como a velha metáfora das ovelhas que, mesmo sem cerca, continuam a esperar que se lhes abra o portão, só nós é que nos podemos libertar das prisões em que nos colocamos (ou em que deixemos que nos coloquem).
Afinal, tudo é uma escolha, sempre: se escolhermos ser livres, somos os únicos responsáveis por assegurar que a incorporamos e manifestamos na forma como vivemos; se escolhermos ser irresponsáveis, estamos a entregar a chave da nossa prisão mental a terceiros, abdicando da liberdade pelo conforto da desresponsabilização.
Todos nascemos aprisionados de alguma forma, pelos limites com que fomos esbarrando ao longo da vida. Mas é a nossa responsabilidade, enquanto ovelhas, de sermos o nosso próprio pastor e, medo a medo, desmistificar os muros que nos separam da nossa autenticidade.
Pela liberdade de ser quem somos.