Descontraidamente, desconstructivamente, construindo mundos melhores através da música. O ritmo, o groove que existe na música já por si só, é transversal a todos nós, desde sempre e para sempre. A música é uma linguagem universal. Inata. Nata da nata; o creme da inteligência humana neste bolo magnífico que carregamos sobre os nossos ombros e chamamos cérebro.
Recentes estudos científicos apontam para o facto de que sentimos a música e o ritmo desde que somos muito jovens, sendo que nenhum outro primata não humano jamais demonstrou essa capacidade. Segundo Jessica Adrienne Grahn: “(…) há muito que não entendemos sobre como o cérebro processa o ritmo.” Jessica Adrienne Grahn é uma neurocientista musical americana. Ela é a diretora do Human Cognitive and Sensorimotor Core da Universidade de Western Ontario.
Para Tomas Matthews, aluno de doutoramento no Laboratório Penhune de Aprendizagem Motora e Plasticidade Neural do Departamento de Psicologia da Universidade de Concordia (Canadá):
Certos tipos de música dão-nos um prazer intenso e fazem-nos querer mover, uma combinação descrita como a sensação de groove.
A professora Virginia Penhune, supervisora dos mestrados da faculdade, adianta que em relação aos mais recentes trabalhos de investigação: “Nós e outros tínhamos mostrado que a música groove reúne a sensação de prazer e o desejo para nos movermos, mas este estudo mostrou que a combinação destas sensações está codificada nas redes motoras e de recompensa do cérebro.”
Para processar tudo isto existe um bolo que se chama cérebro, com todos os seus atributos e ingredientes mistério, que nos permitem mover, sentir e interpretar a realidade, culminando naquilo que hoje somos (segundo nós próprios): Sapiens – seres dotados de conhecimento, inteligência, emoções, razão… e sentido de música e o ritmo. Sempre.
Os resultados do estudo podem ser úteis para vários tipos de fisioterapia – desde ajudar pacientes com derrames a recuperar até indivíduos com doença de Parkinson:
No caso da doença de Parkinson, a ligação é bastante clara, pois está associada à perda de células nos gânglios da base. Além disso, a música, ou estímulos semelhantes à música, demonstraram ajudar os pacientes a caminhar. Portanto, estudar a conexão entre mover-se para a música, o prazer e os gânglios da base podem ajudar-nos a entender essa doença e outras mais.
Tomas Matthews
A música e o ritmo são o creme e o recheio do bolo, e a cereja no topo de cada um e de todos nós. Que nos cura, liga ou afasta, A cereja multicolorida no topo de cada bolo… Amarela, Verde, Branca, Azul ou sortida de emoções. De facto, cada uma destas cerejas no topo deste bolo chamado cérebro são a música e o ritmo de cada um, independentemente da sua cor ou do seu sabor. Segundo Kant, a essência da estética, o juízo de gosto, assenta na premissa que este deve ser “desinteressado e subjectivamente universal”. Ponto.
Descontraidamente, desconstructivamente, construindo mundos melhores através da música.
Alguns estudos anteriores de neuroimagem cerebral sobre música mostraram atividade numa parte dos gânglios da base associada ao processamento de recompensas, como comida e dinheiro, resumida apenas nesta experiência sensorial de audição musical. Uma experiência muito intensa, que nos dá prazer como, por exemplo, quando sentimos calafrios em resposta à música. Abrir os poros da pele e libertar as emoções; vibrar intensamente quando escutamos música; rir e chorar, amar, partilhar e sentir o som, a harmonia e a batida.
Mensalmente na Jukebox dos R.existentes, selecionamos uma playlist mensal. Clara Tehrani, uma das criadoras deste espaço crítico, afirma na sua apresentação da Jukebox da R.Existência: “Atrevo-me a ir mais longe: sem música, não há vida. (…) A música está em todo o lado, mas saber ouvir é uma arte. Há quem procure música activamente e há aqueles que sentem que a música que precisam chega até si.”
Quem sabe, talvez aqui possamos encontrar a nossa cereja preferida no topo da fatia deste bolo universal chamado Música.
Para os ouvintes, para todos os chefes, os músicos e os artistas responsáveis pela sua confecção, distribuição e degustação; para todos aqueles que criam e partilham música de forma “desinteressada e subjetivamente universal”, sem interesses económicos, comerciais, ou pessoais; para todos aqueles que ouvem, dançam, sentem e valorizam este bem universal: Bem-hajam! Vamos todos comer e partilhar entre nós mais bolos de cerejas multicoloridas… Deliciosas músicas, receitas que nos ajudam a combater e a vencer as nossas piores maleitas. Eu acredito. Bom-proveito & keep the groove!