“A deriva insana
das partículas soltas
que encontram bom porto.
No carrossel cósmico.
A demanda dos artistas atómicos
que aproveitam o terramoto perfeito.
E assim aterram…
Os alquimistas,
ancorando os nossos corações
na esfera da vida…”
Pode ou não fazer sentido, a esfera da vida.
Podemos sentir um relativismo existencial ao refletirmos sobre a esfera da vida… Afinal, é o grande porquê sobre o qual muito pouco sabemos.
Para chegarmos aqui, foram necessários quatro vírgula cinco mil milhões de anos. Foram também necessários uma variedade de acontecimentos e/ou um conjunto de acasos, que acabaram por resultar na origem do universo.
Alex Filippenko é astrofísico e professor de astronomia da Universidade de Berkeley. Ele conta que, na apresentação do curso de introdução à Astronomia, faz questão que os seus alunos aprendam cinco conceitos fundamentais. O primeiro prende-se com a questão: De onde vimos? De onde vêm os elementos presentes no nosso ADN? O carbono das nossas células, o oxigênio que respiramos diariamente, o cálcio nos nossos ossos, o ferro presente nas nossas células vermelhas?
Felizmente (ou não), o conhecimento humano encontrou uma forma para descrever o universo, aquele que deu origem ao cosmos, que criou os elementos que originaram a vida no planeta Terra, tal como a conhecemos hoje em dia. Plantas, animais, humanos, água, atmosfera, tabela periódica e afins.
Filippenko resume que todos os elementos presentes nas nossas células vêm das estrelas: todos os elementos que compõem um ser humano resultam de reações nucleares com origem nas estrelas. Estes elementos, em muitos casos compostos por ferro e outras variedades de minerais, materiais e partículas, foram ejetados para o cosmos por explosões; são o resultado da libertação de gases que se misturaram criando novas estrelas e outros clusters estelares.
Todos os novos membros estelares resultantes desta reação desenvolveram-se e explodiram, continuando a enriquecer, progressivamente e durante o tempo, os gases presentes na Galáxia. Até que, finalmente, há 4.5 mil milhões de anos atrás, uma destas nuvens quimicamente enriquecidas formou o nosso planeta azul. Repleto de água, rochoso, eventualmente verde e, acima de tudo, respirável.
Originou-se um processo químico que deu origem à vida através do desenvolvimento de moléculas e bactérias. Enquanto humanos, sabemos atualmente que antes de sermos o que somos, fomos macacos, fomos peixes, fomos células e moléculas, fomos átomos e partículas. E continuamos a ser um pouco de todos estes elementos que nos unem e que nos separam, à luz do nosso conhecimento e da nossa consciência enquanto sapiens.
Somos o resultado de um fenômeno único ao qual chamamos Big-Bang, que deu origem e forma ao universo. Este universo pode não estar só, tal qual o conhecemos. Algumas teses científicas afirmam a existência de outros universos, paralelos a este onde vivemos, sendo possível que todos estes universos paralelos coexistam simultaneamente.
O resultado é igual para mim, enquanto escrevo este texto. Ou igual para si, enquanto lê este texto. Podemos estar, neste preciso e exacto momento, a existir em qualquer lugar, neste ou noutro lugar universalmente quântico. Refiro-me a multiversos. Vivemos no universo da matéria mas poderíamos existir, hipoteticamente, no universo da antimatéria ou em quaisquer outros estados e universos onde somos igualmente passíveis de existir.
Extraordinário. Afinal, este é um tabuleiro onde podem caber vários outros… muitos outros planetas Terra, universos, estrelas constelações e, quem sabe, mundos paralelos. A física atual, estuda e procura continuamente demonstrar, através de complicadas equações matemáticas, novas realidades que, por não terem ainda passado no teste da falsificabilidade, são ainda teoricamente possíveis.
Estudos apontam para o facto da realidade ser um livro aberto de opções que parecem desafiar a nossa compreensão. Para os mais atentos, novos conceitos devem ser explorados livre e independentemente das nossas origens e conhecimentos. Livres de pensamento e re-existindo.
Por isso mesmo, devemos ter uma mente aberta e explorar novas formas de convir ideias e comunicar. Sem medos, unidos e re-existentes. Cultivando atitudes mais inclusivas, prestando mais atenção aos detalhes que tocam a nossa individualidade, a nossa relação com o universo, a natureza e interação com os outros seres humanos, outras culturas e formas de pensamento. Procurando gerar aquilo a que se pode chamar uma corrente meta-simultânea.
Meta-simultaneidade é uma condição humana, talvez a raiz da evolução. Esta é, na minha opinião, uma característica particular da humanidade. Os fundamentos seculares comuns a todas as religiões derivam claramente para o sentido do colectivo, do presente que precisa do passado para encontrar o futuro. As religiões são o expoente máximo disso mesmo. As pirâmides, por exemplo, são estruturas arquitectónicas que surgem em diversos pontos do planeta sem que os povos que as construíram tivessem conhecimento uns dos outros ou contacto prévio. Contudo,estas são bastante idênticas. Tal como as pirâmides, existem outras estruturas e artefatos espalhados por todo o globo que corroboram esta ideia. Até entre alguns os povos, existem similaridades culturais e físicas que apontam o facto de todos poderem ter coexistido previamente.
Como tal, estamos sempre conectados sub-atomicamente, para além do material e imaterial. Ou seja, pela essência, presente nas partículas soltas que deram origem ao nosso singular e infinito universo, que deram origem à humanidade e aos povos que habitam o planeta. Tudo aquilo que partilhamos é maior do que aquilo que nos separa.
Do ponto de vista quântico, acredito que devemos continuar a procurar o verdadeiro “entanglement”, isto é, encontrar aquele ponto que faz parte da nossa natureza, que nos liga mesmo quando nos encontramos muito distantes, ou nos separa quando estamos próximos… Novos mundos evolutivos estão ao nosso alcance, basta querermos encontrá-los.
Afinal, o que é que a consciência humana ainda não foi capaz de atingir senão a necessidade de evoluirmos juntos. E para isso dependemos apenas de nós próprios, com o dever de respeitosamente elevar o nosso conhecimento colectivo independentemente da nossa cor, crença ou género mas nunca sós.
Somos o resultado das estrelas que dançam a valsa neste carrossel cósmico. Este ponto é importante. Somos o resultado das estrelas incandescentes, somos alquimistas que derivam dos átomos de partículas cósmicas reunidos em determinada atmosfera. Somos, no presente, os seres conscientes que pertencem e julgam compreender (sem compreender totalmente ou minimamente) este vasto universo que deu origem à vida, à natureza e ao ser humano. Este, por sua vez, deu origem (sem ordem definida): à música, à comunicação, à linguagem e às ciências físicas e metafísicas. Muitas histórias podem ser contadas e fazem parte de nós, contudo, não deixamos de ser oriundos das mesmas estrelas, do mesmo universo.
O tabuleiro do conhecimento está criado; aqui as cartas são infinitas e iguais para todos. Ou deveriam ser. Mas, para além deste tabuleiro, poderão existir outros universos ainda. Quem sabe se ainda mais exóticos, contendo um baralho de cartas ainda mais infinito… e assim sucessivamente…
Vamos jogar o Big-bang Infinito? What ‘s your Universe? Choose a Star… Connect. Engage! Activate! PLAY!