Esta semana rapei o cabelo. Não foi uma grande revolução capilar porque já tinha o cabelo curto, mas foi uma mudança de look que suscitou reações diversas. A senhora do cabeleireiro não queria acreditar que eu queria cortar tudo como ao que ela tinha cortado nos lados. O meu filho foi categórico : “esse penteado é só para os rapazes, não é para as meninas; as meninas têm de usar o cabelo comprido assim é que ficam bonitas”. Os alunos e amigos dizem que eu fui “corajosa”, que é “cool”, que fico “hot”. E claro as referências anos 90 surgem – Sinead O’connor, Demi Moore no papel de G.I. Jane. Tudo referências positivas dentro do espectro “rebel girl”.
Há um lado mais pesado e sombra deste processo de rapar o cabelo que também foi interessante explorar. Há uma perda da imagem clichê da feminilidade. Como uma monge ou freira noviça que rapa o cabelo para se despir da sua sensualidade feminina. E, infelizmente, hoje em dia também associamos o cabelo rapado à mulher doente com cancro prestes a começar o tratamento de quimioterapia. Tudo coisas pesadas com uma carga bastante triste. Felizmente no meu caso, transbordo de saúde e não tenho cara de quem vai entrar no mosteiro ou num templo budista, portanto a mensagem é clara: sou apenas mais uma mulher que rapou o cabelo só porque lhe apeteceu e que não precisa de juba capilar para assegurar o seu estatuto de leoa feminina.