Segundo os últimos censos, o concelho das Caldas da Rainha tem menos 801 habitantes do que há 10 anos. Passeando no tecido urbano da cidade, verifica-se que a diminuição da população aconteceu apenas nas zonas rurais do concelho. Enquanto estas ficaram mais despovoadas, nas zonas urbanas o sentido foi o inverso e houve um aumento populacional. O boom de construção não tem parado devido ao fluxo constante de pessoas que ancoram aqui – o magnetismo da cidade é irresistível para alguns. A urbe Caldense (sem as zonas de subúrbio) tem actualmente cerca de 3 quilómetros de diâmetro.
A urbanização expandiu, e também o alcatrão. Vieram com ele carros, camionetes e carrinhas. O novo espaço público, em vez de ser um lugar para as pessoas, passou a ser um espaço para veículos. O flagelo de chapa e borracha estacionado, mais a respectiva estrada ocupa mais de metade do tamanho das artérias da cidade, sobrando apenas passeios pequenos que, em alguns sítios, não permitem sequer duas pessoas simultaneamente sem que uma tenha de encostar à parede ou por um pezinho na estrada.
A solução da autarquia local para a mobilidade das pessoas na cidade foi construir parques de estacionamento perto do centro e criar mais vias para veículos motorizados se deslocarem de e para a periferia. Foi completamente esquecido o meio de transporte local que melhora a qualidade de vida de qualquer povoação que ouse apostar num modelo de cidade moderna e sustentável: a bicicleta, com a sua respectiva ciclovia. Sendo um modelo usado com resultados comprovados em várias cidades de dimensões maiores tais como Copenhaga, Amesterdão ou Bordéus, que se destacam por terem uma elevada qualidade de vida e mobilidade, é louvável a teimosia do município de não apostar neste transporte.
A cidade tem pequenas dimensões pelo que a criação de ciclovias que atravessem a povoação nos seus variados eixos não será difícil de executar se houver vontade política e planeamento urbano adequado. Em locais onde não seja possível fazer vias só para bicicletas, pode optar-se por zonas de trânsito misto lento onde a velocidade máxima é de 30 quilómetros por hora. Em Lisboa, essas vias têm uma cor de pavimento diferente que alerta as pessoas que estão numa zona de circulação lenta. Está comprovado quando as ciclovias são construídas há um aumento gradual de pessoas que mudam o seu meio de transporte para a bicicleta.
É uma forma de locomoção silenciosa, não polui e é um excelente meio para mantermos a forma, pedalar faz bem. A única energia que necessita vem das nossas calorias, o que a torna num meio de transporte barato. Quem tem mais dificuldades, vive em zonas com colinas ou tem de percorrer mais quilómetros do que a sua capacidade física permite, pode optar por arranjar uma bicicleta eléctrica ou para os mais “hipsters” uma trotineta eléctrica.
Outra vantagem é o melhoramento do uso do espaço urbano: 10 bicicletas ocupam o estacionamento equivalente dum carro. Ruas sem veículos motorizados tornam-se mais atractivas para peões, pois têm os passeios mais largos, são silenciosas e mais seguras. Também traz vantagens para o comércio e cultura local devido ao aumento do chamado foot trafic. Se nos deslocarmos mais devagar, a probabilidade de usufruirmos o que a rua nos proporciona aumenta, sejam bares, restaurantes, lojas ou mesmo bancos de jardim. O tecido social também fica mais rico pois há mais interacção entre as pessoas que se cruzam.
Não é expectável mudar mentalidades e hábitos do dia para a noite, mas se houver a nossa vontade como cidadãos e um plano definido da autarquia para o micromobilidade, dentro de 5 a 10 anos, teremos uma cidade mais aprazível, amiga do ambiente e inspiradora na sua vivência.