A árvore que deixou de respirar

Era uma vez uma cidade muito pequenina que ficava muito longe de tudo, no fim do mundo. Nessa cidade não havia animais ou plantas, montanhas ou rios, não se podia pescar no mar, e nas suas terras nada era plantado. Toda a comida vinha de fora, e tinha de ser trazida em grandes contentores. 

As pessoas que lá viviam passavam o dia a trabalhar, todas muito concentradas a abanar a árvore das patacas. Esta árvore era mágica e única no mundo. Pessoas dos quatro cantos do planeta vinham em busca do poder desta árvore mágica  – o poder de ganhar muito dinheiro. 

Quando pessoas de fora chegavam à cidade, tinham de ir falar com o guardião da árvore, que lhes perguntava sempre as mesmas perguntas:

– Estás disposto a ver a tua família e o mar apenas uma vez por ano?

– Aceitas viver numa cidade onde a maior parte das pessoas não tem os mesmos gostos que tu?

As pessoas hesitavam, mas depois de verem a riqueza que as patacas traziam a quem passava o dia a colhê-las, lá aceitavam e assinavam o contrato com o guardião. Este contrato autorizava as pessoas a ficarem na cidade durante um ano; se ao fim desse ano elas se portassem bem, podiam continuar a viver na cidade da árvore das patacas. (Na verdade as pessoas nunca eram obrigadas a ir embora; o guardião é que gostava de as assustar, para elas pensarem que a qualquer momento isso podia acontecer.)

O tempo foi passando e as pessoas foram ficando, tiveram filhos, netos. Muitos destes, mesmo estando a viver noutros países, sentiam curiosidade de vir ver a famosa árvore das patacas. Então, havia sempre pessoas novas a chegar à cidade. 

Entretanto, certo dia, espalhou-se uma doença pelo mundo que assustou o guardião da árvore. Este chamou toda a gente e anunciou:

– A partir de agora não se sai mais daqui, é muito perigoso andar lá fora noutras cidades. Deixamos-vos ir embora, mas será para sempre, não podem voltar.

– Só quem já coleccionou muitas patacas pode ir e voltar, mas para isso cada vez que volta tem de ficar 21 dias preso num quarto e fazer muitos testes para termos a certeza de que não estão doentes.

As pessoas, que já se sentiam apertadas por não poderem ver as montanhas e o mar, viram o seu horizonte fechar ainda mais. A cidade ficou dividida em três: os que conseguiam ir e voltar, os que não podiam sair na cidade, e os que se iam embora para sempre. Foi uma divisão que estragou o equilíbrio entre a árvore e as pessoas. A pouco a pouco, a árvore começou a secar, e a pouco a pouco as pessoas começaram a partir, porque nem as pessoas nem as plantas, por mais mágicas que sejam, conseguem viver muito tempo sem respirar.

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