O petróleo, gás e os seus derivados estão a caminho da estratosfera. Acompanhando a subida de tensão no leste da Europa e depois com o começo da maior guerra na Europa desde 1945, o preço do barril pegajoso e pestilento continua o seu trajecto a caminho de um planeta distante. O gás contrai-se ao ritmo da carteira, que encolhe também.
A subida de preços nos combustíveis fósseis — e, por conseguinte, o aumento da inflação — é o único caminho que se vislumbra a médio prazo para cortar as maiores fontes de rendimento da Rússia. Resumindo, vamos todos pagar para parar de alimentar a máquina de destruição de Moscovo, já que, ao reduzirmos a compra de energias fósseis aos poços russos, deixa de haver dinheiro para jogos de guerra.
Nas redes sociais, os norte-americanos dizem que estão dispostos a pagar mais nas bombas de gasolina. Aparecem sugestões sobre como sobreviver aos aumentos, sugere-se o uso de bicicletas e transportes públicos ou a partilha de viagens. Na Europa recomenda-se aumentar a temperatura de pelo menos um grau no uso do aquecimento central para se gastar menos gás. Vale tudo o que for necessário para encostar a economia da Rússia de Putin às cordas como se fosse um combate de boxe. O mundo democrático quer um K.O. e não uma vitória por pontos ao fim de 12 rondas de combate.
Além do desastre ecológico planetário causado pela aposta em energias fósseis como motor do mundo, a sua exploração por países antidemocráticos tem sustentado regimes nefastos, desde as teocracias da Arábia Saudita e Irão, às monarquias dos Emirados Árabes Unidos e Catar, até ao autoritarismo da Venezuela e Rússia. O falecido John McCain, ex-candidato à Casa Branca, sintetizou a Rússia numa famosa frase.
A Rússia é um posto de gasolina disfarçado de país.
John McCain
É problemático o poder económico e geoestratégico dado a países que não fazem a redistribuição justa dos lucros astronómicos com a sua população e abusam da sua posição para fazerem “bullying” a outros países. Outro problema é o dinheiro gasto em prol da manutenção de polícias semi-militares ou militares repressivas, que não permite uma pluralidade de opinião nem a manifestação dos cidadãos contra os próprios regimes antidemocráticos. Estas administrações de tiques fascistas impõem a repressão em quem não concorda com as políticas impostas, uma vez que o “status quo” dos opressores tem que ser mantido a todo o custo. E chegam até a bombardear outros Estados, a Ucrânia ou o Iémen, por exemplo.
Se não queremos mais apoiar indirectamente estes regimes repressivos e autoritários com uma economia apenas baseada na venda de combustíveis fósseis, temos de pressionar os nossos governos a irem buscar os combustíveis a regimes mais democráticos enquanto não se fizer a transição para as chamadas energias verdes. Outras medidas para a diminuição da dependência fóssil cabe a nós, como cidadãos, executar ou exigir às autarquias locais, entre as quais: o aumento da cobertura e frequência dos transportes públicos, abertura de mais vias para bicicletas e criação de subsídios para isolamento térmico de casas antigas.
Existe também uma urgência planetária, e não só política, desta necessária mudança radical em como a energia eléctrica é gerada e consumida. Podemos aproveitar o impulso político e aliá-lo à necessidade de manter o planeta num estado habitável para a próxima geração. Tal como devido à Covid-19 muito do que era impensável tornou-se possível — por exemplo, trabalhos que antes se pensava não serem possíveis de fazer em casa, passaram a ser feitos em casa — as mudanças radicais são sempre possíveis, requerendo apenas um esforço e manifestação de todos nós e inevitavelmente do nosso governo.