Andamos ocupados, sempre a olhar para o relógio, a responder aos desafios do dia a dia. Dizemos ‘agora não dá, daqui a bocado já falamos’, enquanto eles — aqueles pequeninos seres maravilhosos — nos fazem cinco mil perguntas sobre tudo, ansiosos por ouvir-nos.
Responder às perguntas das crianças é aceitar um desafio de criatividade e imaginação, que ultrapassa todas as barreiras, porque na mente delas não há sequer barreiras para ultrapassar. Se o fazemos com tempo, energia e verdadeira disponibilidade para ouvir, entramos num exercício que nos leva a uma sessão quase infinita de dúvidas e mais dúvidas, que termina, regra geral, por vontade do adulto.
Claro que isto é tudo muito bonito na teoria, mas, tal como no início do meu texto, com muita frequência estamos tão atarefados e sem energia, que não nos damos ao luxo de nos perdermos no exercício. Porém, sabemos que uma criança não deve ficar sem resposta, porque, ao respondermos, estamos a aguçar-lhe os sentidos e a atiçar-lhe a curiosidade, característica que queremos que permaneça nela, também em idade adulta. Por isso, procuramos muitas vezes dar uma resposta — credível, percetível, mas com pouco espaço para gerar outras perguntas. E qual é a piada de responder assim?
Uma criança, quando pergunta, olha para nós, como se dali viessem todas as chaves que ela precisa para descobrir o mundo. Olha para nós, como se fôssemos os detentores da verdade, porque elas acham que não o são.
Quantas vezes, nós adultos, olhamos para os outros assim? Quantas vezes, nós adultos, conseguimos manter um fluxo contínuo de perguntas, deixando-nos envolver pelo mistério das respostas e da nossa própria imaginação?
As perguntas das crianças são um verdadeiro privilégio que nos é concedido, de entrar num universo especial, que nós, algures pelo caminho, deixámos de ter acesso.
Vamos mesmo continuar alheados, perdidos na pressa dos dias?