Outrora considerado academicamente uma estrutura vestigial, em teoria desprovido da sua função inicial, o dedão do pé ou hálux revelou-se para mim um elemento basal da minha mecânica enquanto esqueleto e músculo.
Num certo período da minha vida, na sequência de um processo de me descobrir mecanicamente, constatei que se andarmos com o hálux encolhido, como acontece com muitos de nós, os músculos adjacentes encolhem também e o pé ganha uma postura arqueada, o que faz com que o joelho trabalhe numa linha menos medial e mais lateral, o que faz com que as pernas arqueiem, o quadril baixe e que, por sua vez, a coluna baixe, arqueando para um dos lados, ombros e pescoço seguindo esta postura. Se esticarmos o hálux, o pé adquire uma postura mais direita, o joelho vai mais para o meio, esticando o quadril para cima , endireitando a coluna, ombros e pescoço.
Faltam-nos, como espécie, ensinamentos como este, simples mas fundamentais. Falta-nos olhar mais para nós e menos para os outros. Falta-nos sentir mais o nosso corpo, dar-lhe mais do que ele precisa.
Falta-nos hálux. Estamos tortos, estamos encolhidos, não estamos a usar o nosso potencial.
Talvez esteja, não nas nossas mãos, mas nos nossos pés o caminho para sermos melhores. Até porque o caminho faz-se caminhando. E faz-se melhor se usarmos bem o hálux…
R. Existe.