Pussy power

Numa altura em que se começa a ouvir falar do termo “violência obstétrica” através de manifestações em Portugal e em que a Ordem dos Médicos nega a existência de situações de negligência e desrespeito, é interessante dissecar o clássico tema tabu do parto. 

Parir crianças é provavelmente a única tarefa que só mesmo as mulheres podem fazer. No entanto, apesar de ser da nossa exclusiva jurisdição, este “assunto de mulher” tem de obedecer aos ditames do patriarcado. Em vez de estarmos confortáveis, de sermos apoiadas e de nos ajudarem, basicamente quando chegamos ao hospital retiram-nos a nossa autonomia para parir. É triste viver numa sociedade que ainda vê as mulheres como criaturas frágeis e inconstantes e o parto como algo que provavelmente precisará de intervenção médica porque as mulheres não serão capazes de o concluir com sucesso.  

Por causa deste preconceito misógino, é-nos à partida negado o acesso a formas não químicas e naturais de parir — é-nos escondida a verdade, e não temos acesso a uma educação básica de preparação para o parto. Assim como todas as crianças na escola devem aprender sobre higiene dental ou uma dieta saudável, todas as mulheres grávidas deveriam receber formação sobre técnicas de relaxamento e respiração, e acesso opcional a aulas de Yoga pré natal ou outras formas de trabalho corporal.  Estas técnicas são reconhecidas pela ciência e permitem que as mulheres tenham partos mais fáceis, com menos dor e dramas, mas mesmo assim continuamos a caminhar na direção oposta, reféns do clichê que vimos em filmes de um parto longo e doloroso em que a mulher grita e sofre muito.

Trabalho de parto por indução, anestesia epidural, ou cesariana são as escolhas que as mulheres fazem ou são forçadas a fazer para que a coisa aconteça com o mínimo de dor e o mais rápido possível.  Mas isto não é aceitável. Não é aceitável que o corpo médico e mulheres da minha geração ainda acreditem que é “assim que tem que ser”, que “não há outra maneira”. 

Estamos em 2021, não em 1921 e continuamos a propagar ideias tão antiquadas como nos tempos das nossas avós. A ignorância quanto ao assunto é tão profunda que provavelmente nunca vos disseram a verdade: as contrações não são necessariamente dolorosas. Elas só são dolorosas porque as vemos como dor e nos contraímos ao invés de respirar e relaxar. Quimicamente as contrações são ondas de drogas que servem para nos relaxar, um pouco como o efeito inicial de mdma ou ecstasy, aquela onda que sobe e nos arrepia. 

É claro que como qualquer experiência que envolve drogas, é preciso coragem e espírito aventureiro. Trabalho de parto exige algum “trabalho”, é certo, mas é apenas um trabalho de respirar, sentir o corpo, relaxar quando a “trip” fica menos confortável, e na altura do pico de adrenalina, ajudar o bebé a sair. 

As mulheres nasceram para o fazer, é uma coisa normal e natural, tão natural como espirrar, ter um orgasmo, dar um peido.  Somos tão modernos mas ainda com tanta vergonha corporal, é ridículo !!! Free the Pussy, Pussy Power já!

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