A erosão da informação jornalística de qualidade representa um dos males da era moderna. Aliás, uma análise mais atenta e crítica revela uma proliferação alarmante de desinformação. A gratuidade de conteúdos nas redes sociais criou um inimigo do jornalismo tradicional: factualidade, rigor e isenção estão a desaparecer. O contraste entre um jornalismo ancorado em factos verificáveis e o chamado pseudo-jornalismo de certos media conservadores, com seu dilúvio de relatos falsos e manipulativos, é significativo no apuramento dos acontecimentos.
A produção de conteúdo gratuito exige um investimento de esforço significativamente menor, contrastando com a alta exigência do elevado critério jornalístico na criação de artigos íntegros e isentos, o que naturalmente eleva os seus custos. Um exemplo deste declínio informativo é a perda de relevância e o desaparecimento de muitos jornais locais, suplantados pelo volume infindável de (des)informação nas redes sociais. Este vazio informativo foi, em muitos casos, preenchido pela máquina de propaganda de facções políticas, um problema que as democracias modernas padecem. Há uma hegemonia de opiniões online de cariz conservador que, frequentemente, não encontra eco na realidade fora do ciberespaço.
O acesso à informação sofreu uma transmutação profunda. Apesar de ter sido em teoria democratizado, com apenas a necessidade de uma ligação à Internet, a realidade demonstra que o acesso a media de qualidade se concentrou em quem detém capacidade económica. Houve o aparecimento dos chamados “paywalls”. Esta estratégia surgiu como uma forma de monetização online para os media tradicionais, controlando o acesso aos seus conteúdos. O declínio da publicidade nas páginas impressas e a queda nas tiragens em papel forçaram a implementação dos “paywalls” como mecanismo para a perda de receitas.
Embora a monetização possa ser vista como necessária para sustentar um jornalismo de qualidade, os “paywalls” criam uma dicotomia entre a informação factual paga e a propaganda gratuita online. Esta divisão cria tensão entre uma das missões do jornalismo – informar o público. Uma sociedade democrática necessita do acesso a factos e o “paywall” é um muro antidemocrático.
Que opções alternativas há então para os media tradicionais continuarem a sua missão informativa? O jornal “The Guardian”, por exemplo, adota um modelo sem “paywall”, sustentando-se em subscrições online e donativos. Os artigos não estão protegidos, o que contribui para a fidelização da audiência e garante que leitores ocasionais têm acesso à informação, alinhado com a filosofia do jornal de que as notícias devem ser de domínio público. Outra alternativa reside nos micropagamentos por artigo ou em pacotes de acesso a um número limitado de conteúdos por um valor justo. Frequentemente, os leitores procuram acesso a informações específicas, tornando a subscrição completa desnecessária e dispendiosa.
Alguns órgãos de comunicação social facultam o acesso a artigos quando o contributo social se sobrepõe à lógica capitalista, como em períodos eleitorais, catástrofes ou em relação a informações consideradas essenciais. Este é o caminho mais acertado, pois há um imbróglio civilizacional que precisa de factos e imparcialidade, e não esquecer, o dever de informar que deve ser universal e não restrito por barreiras económicas.