Os portugueses passam em média 129 minutos por dia nas redes sociais. Ou, traduzindo isto por em algo mais tangível: são mais de duas horas. Somos o quinto país da União Europeia que mais tempo passa a olhar para os variados ecrãs, seja no telemóvel, no “tablet” ou no “desktop”. Se fizermos o contraste com a Alemanha, o país que passa menos tempo (64 minutos), verificamos que passamos uma hora a mais por dia em tarefas cibernéticas. São “likes”, “scrolls” infinitos, partilhas, vídeos, conversas através de teclas, e as demais formas de “time wasting” que não vale a pena continuar a enumerar.
Este artigo vai debruçar-se sobre uma das possíveis estratégias de combate às redes sociais e aos seus algoritmos invasivos. Reparei que grande parte dos cibernautas não têm um trajecto traçado quando abrem a vasta janela da Internet. O primeiro passo é abrirem a sua rede social de eleição, começam a fazer “scroll” ou a trocar mensagens. A caixa de pandora foi aberta e, quando olham para o relógio, o ponteiro dos minutos andou meia hora para a frente. Se somarmos as várias meias horas que acontecem ao longo dum dia facilmente atingimos múltiplos de horas.
Para podermos navegar sem nos perdermos no labirinto da Internet precisamos de referências, necessitamos de desenhar o nosso mapa cibernético, a maneira mais simples é organizar-nos através dos marcadores, ferramenta que quase todos os “browsers” têm e poucas pessoas usam com eficiência. Se quando temos afazeres delineamos um plano / trajecto para não demorarmos mais do que o necessário na execução da tarefa, porque não fazemos o mesmo quando usamos a Internet?
Em vez de entrarmos numa rede social e tomarmos o nosso pequeno-almoço de algoritmos “fast-food” de Silicon Valley, podemos em alternativa ir directamente às fontes que nos interessam, sem passar por um filtro que não escolhemos. Podemos fazer, como exemplo, uma pasta de marcadores com as publicações que nos interessam, em vez de segui-las directamente nas redes sociais.
As vantagens são múltiplas: não precisamos de ver os mesmos posts, algumas publicações republicam os conteúdos variadas vezes; separamos também a parte noticiosa onde proliferam notícias que nos fazem enraivecer ou encolerizar do nosso eu social – sim, por vezes desejamos apenas comunicar e não consumir. Ao não sermos controlados pelo algoritmo e lermos as notícias nos nossos termos, quando e onde queremos, deixamos de ser bombardeados por informação, constantemente, durante todo o dia.
Outro uso que dou aos marcadores é criar pastas separadas com os vídeos, músicas ou artigos que quero ler num futuro próximo. Quando quero distrair-me ou educar-me, dependendo do estado de espírito, já tenho uns atalhos preparados nos marcadores para passar o meu tempo futuro. Prefiro fazer isso em vez de entrar numa rede social e ser influenciado pela manipulativa engenharia de estímulos que os neurocientistas desenharam para ocupar a nossa atenção. Acabamos quase sempre a navegar por onde não tínhamos intenção de ir.
Tenho também uma utilidade extra: um marcador com o que me é enviado por amigos, conteúdo que tento sempre ver, ouvir ou ler. Uma das grandes vantagens da rede global é poder seguir as suas criações, ideias ou pensamentos com atenção, no conforto de casa. É um bom uso do ciberespaço, em vez de seguir assuntos fora da minha esfera social ou interesse, impostos pelos algoritmos, sobre os quais não tenho influência ou poder de mudança.
Considero o uso do marcador como uma das armas contra o “time wasting” da Internet, deixei algumas ideias que podem ser expandidas pela criatividade e organização de cada um. O objectivo é navegar sem entramos nas redes sociais, bolinar com intenção e propósito. Se estivermos 129 minutos por dia nas redes sociais, ao fim de um ano é o equivalente a 784 horas passadas à frente de um ecrã; aprender a falar alemão necessita cerca de 750 horas de estudo.